quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Ninguém Escreve ao Coronel

“Ninguém Escreve ao Coronel” pode dizer-se que é um conto grande, no qual já se começam a ver as linhas da obra que lhe havia de dar o Nobel em 1982: Macondo e o coronel Aureliano Buendia, que marcam “Cem Anos de Solidão”, já aparecem neste romance de 1957.

Este pequeno romance anda à volta de um casal de velhotes cujo filho foi assassinado devido à luta de galos, e que recebem como herança do malogrado filho um galo de combate. Os velhotes, sem recursos para comer, ainda têm de alimentar o galo...

Para além disso, “num estilo puro e transparente, com uma economia expressiva excepcional que marcava já o seu futuro como escritor, García Márquez narra com brilho inaudito a história de uma injustiça e violência: um pobre coronel reformado vai ao porto esperar, todas as sextas-feiras, a chegada de uma carta oficial que responda à justa reclamação dos seus direitos por serviços prestados à pátria. Mas a pátria permanece muda.” (D. Quixote).

Já Ninguém Morre de Amor

Durante as férias andei a ler um novo autor para mim: Domingos Amaral, com Já Ninguém Morre de Amor.

É o típico livro de verão: leve, sem muitas complicações.
É a história de quatro gerações de homens Palma Lobo, desde Roberto Antunes Palma Lobo (1881 - 1916) até ao trineto Salvador.

Ao contrário do que o título sugere, são muitos os que morrem de amor neste pequeno romance sobre a família Palma Lobo.
São quatro homens, "nomes diferentes, mas o mesmo sangue e muito em comum: mulherengos, excêntricos, excessivos, marcados pela loucura e pela tortura da paixão."
Tanto amavam as mulheres por amor, como por ódio (quem ler há-de perceber por que o digo).
E as mulheres também gostavam muito destes homens, ou não tivessem um apreciável "mangalho", como se diz a determinada altura do livro.

Uma frase:
"... a razão e o coração viajam à velocidade dos pensamentos e dos sentimentos, mas o corpo viaja à velocidade da luz, do som e do cheiro."

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

O Homem Lento - uma leitura

“Neste romance, Coetzee oferece-nos uma profunda meditação sobre o que faz de nós humanos e o que significa envelhecer, reflectindo no modo como vivemos as nossas vidas.

Como todas as grandes obras literárias, O Homem Lento levanta questões mas raramente oferece respostas. Em consequência de um acidente, Paul Rayment altera a perspectiva que tem da vida e começa a dedicar-se ao género de preocupações universais que nos definem a todos: O que significa fazer o bem? O que é que nas nossas vidas é, em última análise, significativo? É mais importante que alguém nos ame ou que alguém se interesse por nós? Como definimos o local a que chamamos «casa»?

Na sua voz lúcida e firme, Coetzee debate-se com estas problemáticas.

O resultado é uma história profundamente comovedora, sobre o amor e a mortalidade, que deslumbra o leitor em cada página.”


Sem uma escrita deslumbrante, este romance deixa uma série de interrogações e dúvidas.
Um homem fechado no seu casulo, ainda mais depois de um acidente que lhe tira uma perna. Que tem paixões impossíveis, que se agarra à primeira pessoa que lhe dá atenção, a enfermeira Marijana. Um homem que nunca soube lidar com o seu eu, que nunca soube falar com o coração, que nunca se despenteou por dentro. Um homem com medo. Por isso um homem só.

Às tantas surge este diálogo entre Paul (o protagonista) e Elizabeth:

"- Porque é que me chama tartaruga?

- Porque você fareja o ar durante séculos antes de deitar a cabeça de fora. Porque todo o santo passo custa um esforço tremendo. Não lhe estou a pedir que se torne uma lebre, Paul. Rogo apenas que perscrute o seu coração e veja se não consegue encontrar maneira, dentro do seu carácter de tartaruga, dentro da sua paixão de tipo tartaruga, de acelerar a sua corte à Marijana - se é efectivamente sua intenção continuar a cortejá-la.
Lembre-se, Paul, é a paixão que faz girar o mundo. Você não é analfabeto, deve saber isso. Na ausência da paixão o mundo estaria ainda vazio e informe."